Um pãozinho para o Cônsul em França

http://www.youtube.com/watch?v=JEEgj5lmUIs&feature=youtu.be

Resumo :
Durante uma exposição no Consulado Geral de Portugal em Paris (« Les Portugais à Paris ») o Cônsul aproveitou a ocasião para falar um pouco do contributo da emigração portuguesa em França, mas pouco se falou da verdadeira realidade dessa emigração, e muito menos da actual emigração portuguesa. Sabendo a forma pouco sensível como os nossos governantes e o Presidente da República têm abordado as graves consequências sociais da actual austeridade e a nova emigração, nós, como novos emigrantes e filhos de emigrantes, entregamos ao consul de Portugal de Paris um pão duro, envolto num embrulho « chique », relembrando que estas medidas aumentam as desigualdades e a pobreza em Portugal, e incentivam a uma emigração massiva e frágil. Esta acção foi feita em colaboração à distância com a « Plataforma Cidadã de Resistência à Destruição do SNS » — http://www.manifestosns.tk/?page_id=31.

Descrição :
Inaugurou ontem, dia 27 de Janeiro de 2012, uma exposição no Consulado Geral de Portugal em Paris, sobre o nome « Les Portugais à Paris », mostrando os trabalhos de Irene Bonacina e d’Agnès Pellerin. O Cônsul aproveitou a ocasião para falar um pouco do contributo da emigração portuguesa em França, desde o simples opérario ao intelectual. Mas pouco se falou da realidade actual da emigração portuguesa, que se repete em número e dificuldades como o que se viu nos finais dos anos 60 inícios dos anos 70. Talvez porque esta é uma exposição com uma abordagem histórica, mas então ? Ou talvez porque repetimos o que se viu durante e depois dos anos 70, um omitir das dificuldades dos cerca de 800 mil portugueses que vieram para França, preferindo-se ficar pelos inúmeros clichés, ou as inúmeras remessas, essas sim, sempre valeu a pena falar ! Talvez seja isso, essa ausência de memória, de reconhecimento, que ainda hoje em Portugal estamos longe de dar um verdadeiro lugar na história.
O mais curioso é que nos dias de hoje parecemos querer repetir esse culto do « olvido », num silêncio muito idêntico perante uma nova emigração massiva — que já começou há uns anos e que neste momento toma proporções equivalentes aos finais dos anos 60. Onde estórias de exploração, fome e frustação se repetem… Nós não quisemos deixar de aproveitar o momento de ontem para colocar essas estórias na historia actual…

Em colaboração com a « Plataforma Cidadã de Resistência à Destruição do SNS », utilisamos o seu manifesto (http://www.manifestosns.tk/?page_id=31) e o mesmo símbolo de contestação : um pão duro, envolto num embrulho « chique », relembrando as necessidades dos novos emigrantes, e da memória dos filhos de emigrantes portugueses. Quisemos com isto mostrar ao Consul a nossa indignação pelo facto do Sr Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, dizer que as suas reformas acumuladas do sector público (uma das quais, « oiçam bem » — dizia ele, de apenas 1 300 euros, como se isso fosse um insulto ao seu esforço de 40 anos de professor universitário…) . Mas tem este senhor ainda um todo acumulado de reformas do sector público por onde passou (pelos menos 10 mil euros por mês )…que não lhe servem, dizia ele, para as suas despesas. Talvez todos nós o tivessemos ouvido mal, no fundo conhecemos o seu discurso e sabemos-lhe sensível à pobreza em Portugal. Mas não podemos deixar passar o momento de ontem e falar disto ao Consul de Portugal em Paris, porque é aqui que vivemos actualmente. Mostramos-lhe a nossa indignação pelo facto do Senhor Presidente da República, tão sensível a quem passa dificuldades como ele e sua esposa (então imaginamos como se sentirá em relação à média portuguesa), mas que no entanto aprova medidas que visam desmantelar o Serviço Nacional de Saúde, desprotegendo ainda mais os que, como ele ou pior, já estão desprotegidos, ou vão passar a estar com tanta medida de austeridade. Esta é mais uma medida que vai provocar mais pobreza, mais emigração…

O Consul mostrou-se nitidamente incomodado com o pão seco embrulhado, talvez porque se viu de frente a uma realidade que ninguém, nem mesmo nós, queremos realmente acreditar…é humano. Não aceitou o pão mas aceitou o manifesto da Plataforma, e ficou na conversa com três jovens emigrantes, chegados aqui há cerca de um ano, e que têm vivido dificuldades sérias na procura de trabalho, de casa, aprendizagem do françês. Estes jovens mostraram, com a sua experiência, que as mais recentes recomendações para « emigrar » dos nossos governantes omitem a realidade de muitos jovens licenciados, que em Portugal trabalhavam na sua area por menos de 700 euros por mês, e estão hoje a ganhar mais em França mas trabalhando nas limpezas ou outros do género. Nada disto seria em si dramático (quem já não teve de fazer trabalhos menos qualificados em relação aos seus estudos ?) mas é problemático quando não se fala desta realidade em Portugal com mais transparência, nem da falta de perspectivas que muitos destes, qualificados ou outros tantos mais numerosos menos qualificados, sentem no seu país, sentem quando emigram numa Europa em crise, e sentem quando encontram consulados que, por decisões politicas, fecham as portas, encarecem os seus serviços, e não lhes respondem aos pedidos de ajuda básica. O Consul lamentou que assim tivesse sido a recepção destes jovens no consulado de Paris, e prometeu que no futuro seria diferente. Mas não quis comentar os discursos de incentivo à emigração dos governantes em Portugal. Compreendemos a sua atitude, na mesma forma como ele compreendeu a nossa.

Raquel (e obrigada a tod@s os que apoiaram esta iniciativa!)

Moonspell, boa música portuguesa

« Qual é a história desta terra? O medo…. »

Moonspell

Vale sempre a pena dar a conhecer boas bandas portuguesas. Os Moonspell editarão o novo álbum, « Alpha Noir », no dia 27 de Abril em Portugal e noutros 50 países.

“Com o país mergulhado numa crise corrosiva, a banda encheu-se de orgulho e criou um álbum incendiário, com nove canções cheias de contagiantes riffs de guitarra, entre o thrash e o rock, elevadas a uma dimensão própria pelo conteúdo lírico mais reivindicativo que a banda já escreveu”, revela Fernando Ribeiro em comunicado, continuando: “Em definitivo, os Moonspell subiram um escalão no que toca a estruturar canções, fazendo de “Alpha Noir” um disco surpreendente e fresco, onde todas as canções têm um efeito eletrizante que tomará de resgate as audiências ao vivo”. “O resultado é a chegada a uma essência nunca antes testada”, pode ainda ler-se.

À edição especial do disco junta-se um outro álbum – “o gémeo musical de “Alpha Noir”. Intitulado “Omega White”, reúne oito temas originais “de pura atmosfera gótica, num tributo justo a bandas como Type O Negative ou Sisters of Mercy, que influenciaram a banda na sua fusão muito particular do metal gótico…”. Além da edição especial do disco, estará também disponível para venda uma versão deluxe.

“Alpha Noir” e “Omega White” serão apresentados, na íntegra, a 12 de Maio, no Campo Pequeno, em Lisboa, numa “produção visual de palco a uma escala que fará desta noite a data mais importante em toda a vida da banda e dos seus fiéis”.

O disco terá distribuição internacional pela editora independente austríaca Napalm Records, uma vez que os Moonspell têm vindo a fazer, há largos anos, uma consistente carreira de concertos fora de Portugal no circuito mais direccionado para o heavy metal.

« Alpha Noir » foi produzido por Tue Madsen e sucede ao álbum « Night Eternal », que vendeu cerca de 65 mil cópias em todo o mundo, refere a promotora da banda.

 

Opiário

Álvaro de Campos,

Ao Senhor Mário deSá-Carneiro

É antes do ópio que a minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mata,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah, uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smoking-room com o conde –
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma. A minha
Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co’a sueca… e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O facto é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranquilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as porta! E isto afina! é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me do mesmo modo.
Qu’ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Pra sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O facto essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida… Ora! um rapaz…
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah, quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que cos cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a…

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah, que bom era ir daqui de caída
Prá cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas –
E basta de comédias na minh’alma!

1914, Março.

Saint-Denis, o banlieu rouge

Saint-Denis

Moro no Banlieu Rouge. É assim que por aqui chamam ao meu departamento, o 93, Saint-Denis. Considerada uma das piores zonas dos arredores de Paris.

Quando cheguei a Paris vinha já com uma perspetiva de trabalho em vista. Não um emprego. Um trabalho mesmo, com um horário de 35 horas semanais e com um salário mensal duas vezes mais elevado que aquele que ganhava em Portugal como jornalista. Desenganem-se se pensam que vim motivada pelo dinheiro. O dinheiro é fundamental. A verdade é que em Portugal, o salário que estava a receber e a forma como o trabalho condicionava a minha vida, estavam a limitar-me, pessoal, cultural e socialmente. Paris surgiu por vários motivos, um deles mesmo a curiosidade e a vontade de crescer como pessoa, de poder ter acesso às cenas culturais, à informação alternativa, a tudo o que me fascina e me dá vontade de viver.

Encontrar casa era, à chegada, a minha grande prioridade e tanto perguntei e procurei que encontrei uma vaga em Saint-Denis. Logo os familiares e amigos me desaconselharam. Mas é que nem pensasse numa coisa dessas, estava a precipitar-me, diziam. Porque até deram uns documentários na televisão francesa que mostravam Saint-Denis e nem se podia andar na rua!

Ainda assim, quis vir ver com os meus próprios olhos e gostei do que vi. Um apartamento, não lhe podemos chamar pequeno tendo em conta a realidade parisiense, no último andar, com varanda sobre o rio Sena e a Tour Eiffel ao fundo como vista. Claro que não perdi a oportunidade e marimbei-me para a opinião dos outros sobre este assunto.

Há quase um ano que aqui estamos e até hoje a única cena desagradável que passei foi com o carro de uns amigos que estavam cá a passar uns dias. Uma noite partiram-lhe os vidros, mas não roubaram nada. Vandalismo. Isso é coisa que pode acontecer em qualquer sítio.

Ao mesmo tempo fui descobrindo que habito numa das zonas mais cools de Paris. A nível de património é aqui que está situada a primeira catedral gótica da Europa – Basilique de Saint-Denis. É neste monumento que estão enterrados os reis de França, (exceto três deles).

Mas, melhor ainda é a nível cultural. Tenho descoberto eventos fantásticos. Já nesta sexta vai aqui ser projetado o documentário « Os novos cães de guarda », « Les nouveaux chiens de garde », um filme de Gilles Balbastre e de Yannick Kergoat.

Um documentário interessante sobre os poderes que têm dominado a sociedade. Os média proclamam-se o « contra-poder », no entanto, a maioria dos jornais, rádios e cadeias de televisão são propriedade de grupos industriais ou financeiros intimamento ligados ao poder.

Em 1932, Paul Nizan publicou o livro « Les Chiens de garde » para denunciar os filósofos e escritores da sua época que, sob a cobertura da neutralidade inteletual, se impunham como  guardiães da ordem estabelecida. Hoje em dia, os cães de guarda são estes jornalistas, editorialistas e especialistas mediáticos que se tornaram evangelistas do mercado e guardiães da ordem social.

Com força e precisão, o filme aponta a ameaça crescente de uma informação convertida em mercadoria.

Ora, isto diz-me muito porque, embora trabalhando num meio pequeno, vive um enorme conflito laboral por me recusar a produzir informação como se esta fosse uma mercadoria. Claro que isso me levou ao esgotamento e à vontade de partir. Vontade que concretizei com o prazer de quem dá uma enorme bofetada a todo um sistema instalado.

Claro que hoje não faço aquilo que realmente gostaria de fazer, profissionalmente falando. Mas, em contrapartida, tenho tempo e liberdade para vir aqui dizer isso mesmo.

Onde?

Cinema L’Écran
place du caquet
Saint Denis (93)
Métro: Ligne 13,  Saint-Denis Basilique

Cinema: « Festival Bobines Sociales »

Festival Bobines Sociales

É já este fim-de-semana, 27, 28 e 29 de Janeiro, que os Studio L’Ermitage iniciam o Festival « Bobines Sociales », mostrando ao público, a preços bastante acessíveis, um conjunto de documentários e filmes alternativos, de grande atualidade e com abordagens muito pertinentes.

O tema de sábado, por exemplo, é o emprego, com a projeção do filme documentário « La gueule de l’emploi », seguido de um debate (20h30). Da autoria de Didier Cros, (2011), esta é uma obra polémica que coloca a nú as actuais técnicas de recrutamento. Dez comerciais convocados para uma sessão coletiva, por um gabinete de recrutamento parisiense, devem distinguir-se uns dos outros para tentar ficar com o emprego.

O que é que se procura, ao certo? Saber se estes comerciais são dinâmicos, entusiastas? qual a sua faculdade de adaptação? Qual a capacidade de submissão?

Cada sessão fica a três euros. Duas sessões são cinco euros. E são muitas as propostas! Vale a pena ver o programa, aqui.

Hoje, amanhã e quinta-feira há sessões gratuitas muito interessantes com as Soirées Hors les Murs.

Onde:

Studio de l’ermitage
8, rue de l’ermitage
Métro Jourdain, Menilmontant

Pinacothèque de Paris, um espaço a visitar

A Pinacothèque de Paris deve ser um espaço cultural extraordinário. Admito desde já que não conheço. Mea culpa. Mas não me irei perdoar se, em breve, não tomar a iniciativa de ir descobrir a fundo esse espaço.

Reparem na programação:

Até 11 de Março: EXPRESSIONISMUS & EXPRESSIONISMIP

Berlin-Munich 1905-1920. Der Blaue Reiter vs Brücke

Até 25 de Março, tesouros das coleções reais holandesas, ou « L’Âge d’Or hollandais »


 

 

A partir de 26 de Janeiro, « As máscaras de jade maias »

Les tarifs
Le billet simple

Plein tarif 10 €

 

Francês em destaque na Expo Línguas de Paris

O Parque de Exposições de Versalhes, em Paris, prepara-se para receber a « Expo Línguas », um evento que tem a Língua Francesa como « convidada de honra »e que promete, ainda, dois espaços de descoberta e iniciação a outras línguas estrangeiras.

Isto parece-me interessante. Primeiro porque, sendo a Língua Francesa a convidada de honra, acho que esta pode ser uma boa oportunidade para aprender e conhecer melhor o francês. Depois, sempre tenho uma certa curiosidade, (embora tenha quase uma certeza triste sobre o que vou dizer), mas há sempre aquela expetativa de que a nossa Língua Portuguesa esteja (bem) representada! Afinal, e não me vou cansar de dizer isto, mas como todos sabem, (e há quem queira esquecer), Paris tem a segunda maior comunidade de Portugueses em todo o mundo, vem a seguir a Lisboa, que é somente a capital de Portugal.

Além disso, hoje aconteceu-me algo que me deixou muito triste. Uma pessoa que conheço e que é extraordinariamente apaixonada por literatura não conhecia um único escritor português. Caramba, nem o nosso Nobel da Literatura. É decepcionante. Assim como é tentar escrever neste novo português que entrou agora em vigor por decreto…

Ainda hei-de falar mais sobre isto.

A « Expo Langues » é em Porte de Versailles, de 2 a 4 de Fevereiro. A entrada é gratuita. A organização disponibiliza mais informações aqui. No ano passado, estiveram presentes 30 países, 200 expositores e 80 línguas representadas.

Metro: Ligne 12, Porte de Versailles

Descobertas pessoais

Acontece, muitas vezes, estarmos numa cidade como Paris e não sabermos o que fazer por serem tantas as opções! A mim, pelo menos, acontece-me e deve ser algo que encontra fundamento no meu próprio « provincianismo », por assim dizer. É que isto de nascer e ter vivido no Interior deixou-me com um certo « handicap » cultural que quase tenho vergonha de reconhecer pelo quanto que amo a literatura, a arte, o cinema, a música, o teatro….Pelo quanto que gostaria de fazer uma vida profissional ligada à cultura e à arte, um querer que não tem chegado ao que aspiro e quero para mim…

Isso leva-me, muitas vezes, a pesquisar informação sobre a cena cultural parisiense, mas são tantos os eventos que sei que me anda a escapar muita coisa que amaria descobrir.

Foi, por isso, uma descoberta fascinante e super interessante a que fiz hoje, com a revista InRockuptibles. Há uns anos que não lia uma revista de índole cultural tão boa! Além de que esta é uma boa forma de aprender a língua francesa. Se bem que o meu problema é mesmo falar… Um dia chego lá.

Paula Rego expõe em Paris

"A Família", de Paula Rego, imagem retirada da Internet

A Fundação Calouste Gulbenkian em Paris inaugura no dia 26 de janeiro a primeira exposição “representativa” da obra da pintora Paula Rego, em França, com trabalhos desenvolvidos entre 1988 e 2009, de “A família” à “Mulher cão”.

A primeira mostra representativa da pintora portuguesa organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian em França, reúne obras realizadas entre 1988 e 2010 e que contribuíram para o seu reconhecimento internacional.

A exposição reúne obras realizadas entre 1988 e 2010, um período “de total maturidade de Paula Rego”, mas não tem qualquer caráter retrospetivo, concentrando-se na escolha das séries temáticas “que mais contribuíram para o reconhecimento internacional da sua força e originalidade”, refere a Fundação, que organiza a exposição em parceria com o a Fundação Paula Rego/Casa das Historias de Paula Rego e a Câmara de Cascais.
O percurso começa com a obra «A família» (1988), que mostra uma mulher, mãe e duas filhas, na tentativa de reanimarem “a todo o custo” o marido, pai, explicou à agência Lusa, a comissária da exposição e diretora da Fundação Paula Rego, Helena de Freitas. A responsável afirma que esse trabalho, feito depois de 1986, ano que os críticos apontam como o da “fratura mais evidente” no trabalho da autora, depois da morte do seu marido, Victor Willing, “inicia a alteração da sensação de representação plástica de Paula Rego”.
Paula Rego é apresentada como uma artista plástica “que domina as ferramentas técnicas e recursos estéticos dos grandes mestres”, para desenvolver uma linguagem visual “que desafia o espetador e o transforma”. “É uma exposição que, de alguma forma, entra no campo das emoções. Todo o potencial emocional está muito presente”, afirmou Helena de Freitas à Lusa.
Em complemento à exposição, a Gulbenkian Paris realiza duas conferências. A 23 de fevereiro, às 18 horas, o escritor, poeta e crítico literário Anthony Rudolph conversa com o pintor e diretor da Escola de Belas Artes de Nimes, Dominique Gutherz. A 15 de Março, também às 18 horas a Fundação acolhe o crítico de arte Philippe Dagen, para uma conferência sobre a obra de Paula Rego.

Os trabalhos vão ficar expostos na nova sede da Fundação, em Paris, até ao dia 1 de abril.

Exposição Paula Rego
26 de janeiro a 1 de abril
Centre Cultural Calouste Gulbenkian
39, bd de La Tour Maubourg
De segunda a sábado, das 11h às 18h

Fonte: Lusa

Festival de Teatro MC93 destaca produções portuguesas

"Songe d'une nuit d'éte", site MC93

O Festival “Standart” MC93, (Saint-Denis), volta a colocar as obras portuguesas em destaque. Em cena vai estar o Teatro de Praga com dois novos espectáculos: “ Israel”, de Pedro Penim; e “Um Sonho de uma noite de verão”, uma criação colectiva, baseada em Shakespeare, e que conta com a participação dos “Músicos do Tejo”.

http://youtu.be/cVmXofXYnWw

Datas:

Israel, Pedro Penim/Teatro Praga, 4 a 6 de Fevereiro

“Um sonho de uma noite de verão”; (Shakespeare) produção Teatro Praga, 3 a 5 de Fevereiro

Sobre a peça “Israel”, os promotores do Festival escrevem o seguinte:

« L’amour peut être un travail pénible. Et en particulier l’amour que l’on éprouve pour un pays. Pedro Penim n’est pas juif, la question de l’identité juive n’a pas revêtu d’importance particulière pour lui jusqu’à présent.

Jamais les intérêts religieux, économiques ou politiques ne l’avaient amené à s’identifier à Israël. Mais sa confrontation avec ce pays et son histoire est intime. Israël, c’est une histoire d’amour avec une terre qui peut tout représenter : l’effroi et l’asile, le chaos et le jardin d’Eden, le passé. un jeu fascinant avec la nation et la fiction, une fouille archéologique dans l’Histoire et le sens, une déclaration qui devient débat sur l’objet même de cet amour. Ici, rien de documentaire ni de pédagogique – si ce n’est que la performance de Penim nous conduit en terrain mouvant, là où se brisent les certitudes, les représentations et les opinions.

Pedro Penim est assis devant son ordinateur, son visage apparaît, projeté sur un écran. Difficile de dire à qui et pour qui il parle : au public, à luimême, à l’objet de son amour ? Car Israël,cette nation fictive, prend forme humaine dans l’espace, telle une personne avec laquelle il faut vivre. Avec la performeuse Catarina Campino, qui régulièrement interrompt ce flux de paroles en anglais et en français, Penim cerne les contours des images que l’on se fait de l’objet aimé – non sans être, souvent, épris de soi-même. Un amour que l’on tue avec autant de passion, au terme de cette love story.

« L’amour se meurt », ici aussi. Mais la performance atteint son but : « creuser le sol et tenter de communiquer avec l’Histoire. En direct ».

Membre du Teatro Praga de Lisbonne, Pedro Penim évolue au cœur d’une forme théâtrale qui articule performance et installation, philosophie et politique, et caractérise cette compagnie. un langage innovant, conscient qu’il se situe toujours à la frontière entre le réel et la fiction. un texte haletant, un cheminement de pensée lucide : Israël nous invite à nous lancer dans ce travail amoureux”.

“Um sonho de uma noite de verão”

C’est un spectacle sur le pouvoir, et sur le bonheur (argument constant des régimes totalitaires). Abdiquer la démocratie au nom du bonheur, oui le bonheur ne rend pas toujours intelligent.

Un plateau télé où s’affairent une soixantaine d’artistes, acteurs, danseurs, chanteurs, des équipes de tournage, un ensemble de musique baroque, au milieu d’une étrange cérémonie de remise des oscars où se succèdent, en intermèdes, les scènes de la Fairy Queen de Purcell et du Songe de Shakespeare. Juste avant l’entracte, une dizaine d’installations d’artistes.

Portugais et espagnols à la place de la pub. Dans la petite salle attenante, la « green room », les « nominés aux oscars » attendent. une jeune compagnie factice « The end of Irony » se charge du volet « nouveauté /radicalité » indispensable à un bon programme consensuel. Teatro Praga c’est un moment important dans l’histoire du théâtre au Portugal et en Europe. une mutation générationnelle, un destin, un tournant dans un pays où littérature, cinéma, musique comptent, mais où le poids de l’histoire pèse sur l’évolution. Praga (la plaie, la peste), travaille à une recherche hybride : théâtre, philosophie, installations d’artistes, cinéma, performance, musiques, qui créent, une fois réunis, un nouveau langage spectaculaire étonnant.

L’articulation entre spectaculaire télévisuel, tournage avec montage direct, opéra baroque, Shakespeare et installations d’artistes forment une mécanique complexe que Praga maîtrise parfaitement.

Rien n’est gratuit dans ce spectacle imposant : tout est justifié, s’imbrique avec une précision d’horlogerie. Époques, genres, formes artistiques sont transgressés, avec talent, sans chercher « l’effet » mais le sens. Et quelle fête!”

MC93 Maison de la Culture de la Seine-Saint-Denis

9, boulevard Lénine, 93000 Bobigny

Como chegar:

Metro: Ligne 5, terminus Bobigny, Pablo Picasso (boulevard Maurice-Thoreez)

Tramway: T1, saída em Hôtel de Ville de Bobgny

Bus: 134, 146, 148, 234, 251, 301, 303, 322, 615, 620 – Bobigny, Pablo Picasso. Nocilinen N13