http://www.youtube.com/watch?v=JEEgj5lmUIs&feature=youtu.be
Resumo :
Durante uma exposição no Consulado Geral de Portugal em Paris (« Les Portugais à Paris ») o Cônsul aproveitou a ocasião para falar um pouco do contributo da emigração portuguesa em França, mas pouco se falou da verdadeira realidade dessa emigração, e muito menos da actual emigração portuguesa. Sabendo a forma pouco sensível como os nossos governantes e o Presidente da República têm abordado as graves consequências sociais da actual austeridade e a nova emigração, nós, como novos emigrantes e filhos de emigrantes, entregamos ao consul de Portugal de Paris um pão duro, envolto num embrulho « chique », relembrando que estas medidas aumentam as desigualdades e a pobreza em Portugal, e incentivam a uma emigração massiva e frágil. Esta acção foi feita em colaboração à distância com a « Plataforma Cidadã de Resistência à Destruição do SNS » — http://www.manifestosns.tk/?page_id=31.
Descrição :
Inaugurou ontem, dia 27 de Janeiro de 2012, uma exposição no Consulado Geral de Portugal em Paris, sobre o nome « Les Portugais à Paris », mostrando os trabalhos de Irene Bonacina e d’Agnès Pellerin. O Cônsul aproveitou a ocasião para falar um pouco do contributo da emigração portuguesa em França, desde o simples opérario ao intelectual. Mas pouco se falou da realidade actual da emigração portuguesa, que se repete em número e dificuldades como o que se viu nos finais dos anos 60 inícios dos anos 70. Talvez porque esta é uma exposição com uma abordagem histórica, mas então ? Ou talvez porque repetimos o que se viu durante e depois dos anos 70, um omitir das dificuldades dos cerca de 800 mil portugueses que vieram para França, preferindo-se ficar pelos inúmeros clichés, ou as inúmeras remessas, essas sim, sempre valeu a pena falar ! Talvez seja isso, essa ausência de memória, de reconhecimento, que ainda hoje em Portugal estamos longe de dar um verdadeiro lugar na história.
O mais curioso é que nos dias de hoje parecemos querer repetir esse culto do « olvido », num silêncio muito idêntico perante uma nova emigração massiva — que já começou há uns anos e que neste momento toma proporções equivalentes aos finais dos anos 60. Onde estórias de exploração, fome e frustação se repetem… Nós não quisemos deixar de aproveitar o momento de ontem para colocar essas estórias na historia actual…
Em colaboração com a « Plataforma Cidadã de Resistência à Destruição do SNS », utilisamos o seu manifesto (http://www.manifestosns.tk/?page_id=31) e o mesmo símbolo de contestação : um pão duro, envolto num embrulho « chique », relembrando as necessidades dos novos emigrantes, e da memória dos filhos de emigrantes portugueses. Quisemos com isto mostrar ao Consul a nossa indignação pelo facto do Sr Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, dizer que as suas reformas acumuladas do sector público (uma das quais, « oiçam bem » — dizia ele, de apenas 1 300 euros, como se isso fosse um insulto ao seu esforço de 40 anos de professor universitário…) . Mas tem este senhor ainda um todo acumulado de reformas do sector público por onde passou (pelos menos 10 mil euros por mês )…que não lhe servem, dizia ele, para as suas despesas. Talvez todos nós o tivessemos ouvido mal, no fundo conhecemos o seu discurso e sabemos-lhe sensível à pobreza em Portugal. Mas não podemos deixar passar o momento de ontem e falar disto ao Consul de Portugal em Paris, porque é aqui que vivemos actualmente. Mostramos-lhe a nossa indignação pelo facto do Senhor Presidente da República, tão sensível a quem passa dificuldades como ele e sua esposa (então imaginamos como se sentirá em relação à média portuguesa), mas que no entanto aprova medidas que visam desmantelar o Serviço Nacional de Saúde, desprotegendo ainda mais os que, como ele ou pior, já estão desprotegidos, ou vão passar a estar com tanta medida de austeridade. Esta é mais uma medida que vai provocar mais pobreza, mais emigração…
O Consul mostrou-se nitidamente incomodado com o pão seco embrulhado, talvez porque se viu de frente a uma realidade que ninguém, nem mesmo nós, queremos realmente acreditar…é humano. Não aceitou o pão mas aceitou o manifesto da Plataforma, e ficou na conversa com três jovens emigrantes, chegados aqui há cerca de um ano, e que têm vivido dificuldades sérias na procura de trabalho, de casa, aprendizagem do françês. Estes jovens mostraram, com a sua experiência, que as mais recentes recomendações para « emigrar » dos nossos governantes omitem a realidade de muitos jovens licenciados, que em Portugal trabalhavam na sua area por menos de 700 euros por mês, e estão hoje a ganhar mais em França mas trabalhando nas limpezas ou outros do género. Nada disto seria em si dramático (quem já não teve de fazer trabalhos menos qualificados em relação aos seus estudos ?) mas é problemático quando não se fala desta realidade em Portugal com mais transparência, nem da falta de perspectivas que muitos destes, qualificados ou outros tantos mais numerosos menos qualificados, sentem no seu país, sentem quando emigram numa Europa em crise, e sentem quando encontram consulados que, por decisões politicas, fecham as portas, encarecem os seus serviços, e não lhes respondem aos pedidos de ajuda básica. O Consul lamentou que assim tivesse sido a recepção destes jovens no consulado de Paris, e prometeu que no futuro seria diferente. Mas não quis comentar os discursos de incentivo à emigração dos governantes em Portugal. Compreendemos a sua atitude, na mesma forma como ele compreendeu a nossa.
Raquel (e obrigada a tod@s os que apoiaram esta iniciativa!)